20 de agosto de 2025

Notas em blocos

Eu penso demais naquelas notícias de gente desaparecida e encontrada lá longe, estados de distância, às vezes até um mar aí no meio. Sumiço doido, sem avisar, cortar laços, viver outra vida. "Não sumi, só não quis aparecer", teria dito alguém.

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Dia desses, sala de depilação, pernas pro ar, a profissional me pergunta "tá tudo bem?", não com a situação, que estava, mas com a vida. Dei de ombros e respondi "é, mais ou menos". Tava sem energia para fingir um tá tudo certo, tá tudo ótimo, coisa boa, vida que segue. É, mais ou menos. Qualquer pessoa fica sem saber o que responder, eu não saberia o que responder, cometi esse crime. Silêncio. Ela balbuciou um é, a vida é assim mesmo e em seguida começou a contar com entusiasmo da nova oportunidade de ganhar renda extra, algo envolvendo depósitos, e como pesquisou bastante para não cair em golpe, "já caí tanto em golpes!", disse enquanto descrevia um. Elogiei o cabelo. E as pernas lá em cima.

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Eu sei que faz parte da fauna local mas ainda assim sempre acho graça quando me deparo com o sotaque "bah, o Armandinho é o terror meu". Esse eu só acho cômico, personagem mesmo. Viro a cara para um específico, região específica, ainda da capital. Geralmente vem com nariz empinado dizendo absurdos, não importa a roupagem. Bom, fim de papo.

colagem, desenho de carinha feita com caracteres dando de ombros e flores por cima de uma foto analógica de árvores
Sem título. Colagem de desenho palito sobre foto analógica desfocada (por não saber focar)

16 de agosto de 2025

Bairro

Tá vendo essa casinha de cachorro? É comunitária. É o que diz na própria casinha, pelo menos. Vez ou outra vejo alguém indo de pijama fazer carinho no bichinho. Eu atravesso a rua, sempre rosnam pra mim, sei lá porquê, fui mordida duas vezes na infância, aí pega trauma. Já morei nesse condomínio, feio por fora mas confortável, chato era o casal de moradores aqui da frente, não sei se ainda estão aí. Naquele outro condomínio lá, que vira a esquina, também morei, mas ali sozinha. Durou pouco, mudei pra outro, segui só. No primeiro ano de pandemia morei nessa casa, baita pátio, as cachorras amavam o pé de manga e eu pintei meu cabelo de rosa, ninguém viu. Nesse banco eu tive meu primeiro encontro quando era bem novinha, vi que casou faz pouco. Eu costumava vir nesse casarão quando era pequena, uns anos atrás pegou fogo e agora está vazio. Pronto, chegamos.

10 de agosto de 2025

Dia dos pais

Dia lindo, sol, frio. Dia dos pais. Hoje foi churrasco na casa do meu tio, estava eu, meu pai, o tio por óbvio, minha tia. A filha deles, minha prima, foi de mala e cuia pra Portugal faz alguns anos já. Arrumei esses dias um casaco que era dela, passou para minha mãe, passou para mim. Quando fui dispor as taças na mesa, que logo mais seriam preenchidas com Brahma chopp, lembrei de outra cena da vida e fiquei triste. O pudim de sobremesa, que meu tio repetidas vezes disse ser o melhor do mundo (pude comprovar, realmente é), ajudou a dissipar essa sensação. Por fim, histórias. De fazendeiro trocando criança na maternidade porque queria homem e não mulher. Histórias de bem-te-vi, quero-quero e guaiaca, cortar aipim. Essas coisas. Levei metade do pudim para casa.

flores roxas ou lilás num dia ensolarado
mesa com pudim e taça com cerveja brahma

5 de agosto de 2025

A versão organizada do atelier


Se essa é a versão organizada então imagine só como estava antes. Bom, pra início de conversa o antes nem estava nesse móvel mas em duas estantes de metal que ocupavam espaço demais. Tudo pegando poeira e pelo de gato, um caos. Aproveitei e joguei muita coisa fora e separei também para doar. Vi peça que nem lembrava e numa tarde arrumei três delas. Milagres acontecem, vejam só. Mas o vestido vermelho de março deixei no ostracismo mesmo, perdi a vontade daquilo e como me comprometi publicamente venho da mesma forma dizer isso.

Adoro esse armário. Foi luta de um mês inteiro negociando no Olx, eu queria comprar e o vendedor se fazendo, dificultando entrega, ora essa. Comprei para ser de cozinha num apartamento que já é passado mas com a ideia da possível multifunção dele. E se for guarda-roupa? E livreiro, hein? Agora é parte do atelier. Sabe-se lá como vai ser a vida futura do armário (e minha).

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Comprei o domínio mais barato por mais tempo. marrrina.space é feio? Sei lá. Brega é, com certeza. Os chiques eram caros e com certeza eu não renovaria. Não vou ganhar um tostão disso aqui então Por Mim !! Eu queria algo que fosse meu, que fossem três R, e tenho essa pira de que o Google qualquer dia desses vai mandar o blogger.com pro beleléu. Mas é só ideia mesmo, ninguém ameaçou. Ainda. A internet é assim mesmo, qualquer coisa a gente junta as trouxas e vai pra outro barraco (mas tenho apego nesse).

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Já que tô nessa de meta-post aqui, vou subir num banquinho no meu próprio quarto e anunciar para o espelho que acho que vou postar Fotos Feias™ por aqui. Não de mim, e não fotos FOTOS. Umas fotos de fruta no mercado, alguma coisa engraçadinha que olhei e pensei "que engraçadinho" e mirei o celular. Coisa besta mesmo. Caco no chão. Uns fios de poste. No início da pandemia eu (igual milhões) fiquei desgraçada das ideias, me alienei das notícias e me ausentei de redes sociais, só usava os grupos de animal crossing. Fiz um instagram lado B e adicionei meia dúzia de pessoas (mãe, irmã, etc) pra postar essas fotos feias como prova de que sim, estou viva. Depois melhorei e segui postando as feiuras captadas pelo meu olhar. Risos. Tô desgraçada das ideias de novo e sem redes sociais, fica aí a ameaça.

3 de agosto de 2025

Tickets

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No final de 2019 andei de avião pela primeira vez na vida e comi pastel de nata, croissant, fish & chips, vinho do porto, madeleines. Fazendo a limpeza dos meus armários encontrei esses papéis que uma hora ou outra vão se apagar com a ação do tempo, amassar, molhar, sumir. Tenho poucas fotos, nenhuma de mim mesma que presta. Tive uma alergia no rosto e fiquei emburrada metade das três semanas além-mar.